segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"Que Só Os Beijos Tapem Minha Boca"

A frase a cima, tem duas versões, a possivel inscrição original no muro que corre as redes sociais e googles alheios com imaginário coletivo estético de escritos nos muros que já dominam milhões de posts e a segunda já reproduzida com suas devidas alterações, daquele que se apropria numa noite chuvosa de ativismo no meio de um evento cultural na cidade para instaurar ações do MPL em Natal. Nas frases, são a mesmas ideias, as mesmas palavras, apenas a inverção do pronome de tratamento das segunda pessoa para o pronome possessivo da primeira pessoa: ou seja, é quando o pronome possessivo indica que o sujeito da oração pertencem ao elemento que se refere. Pertencer, fazer ou estar fazendo parte de algo, relações estabelecidas através de identificações, necessidades em comum,anseios daquele grupo, daquela tribo, região, instituição, movimento. 
O movimento do Passe Livre, se faz necessário nas camadas mais emergentes das grandes e pequenas cidades do Brasil e no mundo. Movimento, que luta para exercer o direito de ir e vir e assim se apropriar dos espaços, das correlações com os outros e suas as culturas, pois se você não se move, enrrigesse no espaço e não transita, não se sente capaz de fazer parte de outras possibilidades disponíveis, desde de que tenha como chegar e partir!
E são pelo os trajetos interrompidos que este e tantos outros Movimentos, se fazem indispensáveis para empurrar para a frente as questões e mudar a ordem pré estabelecida do modelo fracassado capitalismo-selvagem, que aprisionam todos em formas, quadrados e espaços delimitados o qual só se pode mover se tem o poder de Compra. Este modelo de instituição politica, não deu certo e não dará, pois impede as mil possibilidades plena e infinita de igualdade com o outro, e não supera a concepção colada da idéia de posse, de consumo e com isto gerando mil camadas de diferenças, violências e outras degradações que atravessamos em nossa existência evolutiva. 
E num debate sobre a origem da violência, no qual defendia que independente da estrutura politica, ela pode ser instaurada pois é inerente ao ser humano, o outro, no debate (o mesmo sujeito do pronome possessivo da ressignificação da frase acima) colocou sua visão de que nesta concepção que vivemos, sim. Ou seja, na qual nos constituímos como esta sociedade, gera violência, mas que em outra formação, podemos um dia sermos livres desta ideia de posse e que produz o agressor e a vitima. Será? Ainda assim, penso e o acaso? O acidente que leva o trauma, a vingança, a violência, divago no (Nascimento da Tragédia, de Nietzsche e teatralizando a questão), e quando ocorrer de maneira "não premeditada"? Pois são sentimentos inerentes ao ser humano, essa foi uma posição que tentei sem sucesso defender e saí, confesso, e feliz, em rever meus conceitos, mas ainda não estou convencida, infelizmente da impossibilidade da inexistência dela em outras formas de sociedade como colocou o rapaz (do pronome pessoal.). Pois ao olhar a historia da humanidade, o homem não conseguiria impedir tais impulsos que acarretam a ideia de vaidade, de poder, de dominação e que terrivelmente é o que nos faz o que somos: Belos e Sujos. Roubando o título de um lindo filme de "Coisas Belas e Sujas" do diretor inglês Stepfen Frears com a atriz francesa Audrey Tautou a mesma que fez sucesso num outro filme que a lançou para o mundo: "O Fabuloso Destino de Amelie Polin". 
Mas voltando ao "Coisas Belas e Sujas", é um filme de 2002, que vai abordar assuntos de imigrantes em Londres, para falar das questões sociais, as velhas lutas de classes, tudo haver com o tema de hoje mas assim como no filme, ainda que as questões de ordem politica-social e violência, que também aparece em forma de tráfico de órgãos, existe a bela relação de companheirismo dos personagens principais, entre a Camareira e o Porteiro do Hotel de luxo onde ocorrem toda a trama do filme. Fica dica deste maravilhoso filme, já citado ha anos atras neste Blog!
E assim como no filme, ainda que existam dentro das lutas as terríveis violências Sujas cometidas ao outro no meio do Movimento existe o Belo, que apesar de todas as Fúrias, também se instaura e assim como na reprodução desta frase do muro alterada por aquele que se apropriou da fala e a ressignificou com seu pronome possessivo, trajado como uma mistura de filho de Ogum com Oxaguian de quem vai para a guerra com sua lança em punho feita de lata de spray e protegendo a cabeça com seu capuz branco de sua própria camiseta e desnudando o peito de quem não tem medo de colocar a vida em risco. E ele soube no meio do movimento, ouvir a ideia de uma segunda pessoa do singular e marcar o muro com as palavras acima que estas que as narram a viu nos posts das redes sociais e com toda aquela efervescência, descoberta e encantamento do instante que ali no meio do Movimento e com aquela chuva! Só vinha nos pensamentos esta bela frase, para descrever exatamente o que sentia no momento e sem saber, ao escrever no muro o meu pedido, ele me deu lindo um presente!
Poderia descrever cada instante desta noite, mas é no âmago que algo se transformou e sinto um pequeno orgulho de fazer parte de maneira ainda que ínfima da Bela reprodução latente do escrito pichado num muro da parte histórica da cidade de Natal.
Que esta vivencia seja uma, das mil e outras que estão por vir quando falo em "Que só os Beijos Tapem Minha Boca". E que me dê cada vez mais coragem (coragem: do latim coractium e derivação do francês cor-age: agir com o coração) para que assim, possa agir para além de mim mesma com a razão e a alma e trazendo a tona zilhões de problematizações que quero com a minha Arte refletir e encontrar pelo caminho com/o outro!